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Carol Bernardo

Biologando: o que penso sobre a soltura de mosquitos da dengue geneticamente modificados

Estava pensando sobre muitas coisas, como sempre. Para você, cara leitora e caro leitor, que ainda não me conhece, eu sou uma pessoa que pensa demais. O que os americanos gostam de chamar de overthinking. Enfim.


Me fizeram a pergunta sobre o que eu achava sobre colocar machos geneticamente modificados de Aedes aegypti na natureza, para evitar a transmissão da dengue. Eu perguntei como seria isso e me foi explicado: esses machos são geneticamente modificados para que não para que não produzam organismos viáveis de chegarem à reprodução, ou seja, machos inférteis.


Por Muhammad Mahdi Karim - Obra do próprio, GFDL 1.2, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=9556152


E como isso diminuiria a transmissão?


As fêmeas dos mosquitos são as que sugam o sangue e transmitem o agente etiológico (normalmente um vírus) para a corrente sanguínea de nós, humanos. Elas se alimentam do sangue para conseguirem ter energia, para a reprodução e geração dos ovos, que de onde surgirão as larvas dos mosquitos e assim por diante.


Uma vez que machos (geneticamente modificados), que não podem gerar descendentes, sejam soltos na natureza, o número de indivíduos na população do mosquito tenderá a diminuir ao longo das gerações. Assim, a transmissão do agente etiológico (vírus) também se reduzirá, até, um dia, se extinguir.


Eu fiquei pensando sobre a pergunta que me fizeram e a minha resposta foi: mais uma vez nós, seres humanos, estamos interferindo na natureza sem ter certeza nenhuma sobre o tipo de impacto que isso poderá ter sobre toda a teia alimentar dentro de um ecossistema, quanto sobre nós mesmos.


Explico.


Caso, ao longo de gerações, diminua cada vez mais o número de indivíduos do mosquito, a tendência é levar à extinção em um determinado momento futuro. Com todas as mudanças que estão ocorrendo, em termos de alterações climáticas e seus impactos sobre a biodiversidade, é difícil estimar qualquer modelagem sobre o tipo de pressão ecológica que possa ter sobre esses animais no longo prazo. Ou seja, não saberíamos dizer, mesmo com a mais moderna modelagem ecológica, o que poderia acontecer a esta população.


Me questiono o seguinte:

  • Será que teria pressão o suficiente para eles começarem a reproduzir de forma partenogênica (como ocorre com os escorpiões amarelos, em que a maioria - se não toda - é fêmea)?

  • Quando a espécie de Aedes aegypti for extinta, qual o impacto sobre as cadeias tróficas, que dependem dele como alimento para reproduzirem... será que também reduziriam e poderiam se extinguir ou aumentar demais o número populacional, gerando um grande desequilíbrio? (Um exemplo de animal que tem o Aedes na alimentação são as libélulas)

  • E qual a pressão que haveria sobre essas outras espécies em termos de mudança de cadeia alimentar ou mesmo de pressão ecológica sobre a dinâmica do número de indivíduos dentro da população?

  • E, será que realmente diminuiremos a transmissão no longo prazo? Será que não poderiam ter mutações no vírus para que esses fossem transmitidas por outras espécies de mosquitos (vetores), que poderiam ocupar o lugar trófico do Aedes? Ou mesmo por outras formas de transmissão que não dependesse mais do mosquito, como vetor?

  • E, por isso, no curto prazo a transmissão do vírus poderia diminuir, mas aumentar no longo prazo?

  • Será que todos esses cenários foram modelados e estudados?


Me questiono muito sobre isso. Porque há uma alta taxa de incertezas, assim como não sabemos estimar ao certo o que poderá acontecer a nossa espécie - e às outras - como consequência dos impactos do aquecimento global.


Não vejo com bons olhos essa manipulação genética sobre organismos, especialmente quando estes são colocados na natureza. São muitas incertezas envolvidas, difíceis de serem modeladas, estimadas e até mesmo, controladas. Por isso, trago mais perguntas que respostas...


E você, o que acha?


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