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Carol Bernardo

Economia do Meio Ambiente e a Conservação dos Ecossistemas.


Foto de Baptiste Buisson na Unsplash

 O que é a Economia do Meio Ambiente, Economia Ambiental e Economia Ecológica e o que essas têm a ver com a conservação da biodiversidade e dos ecossistemas?

 

Basicamente a Economia do Meio Ambiente é como se fosse um guarda-chuva teórico que abriga essas duas “nuances”: A Economia Ecológica e a Ambiental.


A Economia do Meio Ambiente como disciplina começou a unir pesquisadores e cientistas por volta da década de 1960, ano que começaram a falar mais sobre os impactos negativos que as atividades econômicas impunham sobre o meio ambiente. Um dos marcos nesta década foi o livro “Primavera Silenciosa” da bióloga Rachel Louise Carson, de 1962, no qual a autora conseguiu ilustrar como as atividades econômicas estavam causando doenças à população, por causa dos contaminantes lançados por indústrias no curso d’água à montante.


Por anos esta área de estudo passou por conflitos, por causa da dualidade de pensadores e cientistas da Economia Clássica e da Ecologia. Alguns encontros e relatórios internacionais fomentaram discussões entre pesquisadores dessas duas áreas: o Clube de Roma, cujo resultado da discussão está disponível na publicação “Limites do Crescimento”, de 1970; esta publicação fomentou a realização da Conferência de Estocolmo, primeira conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em 1972; e a escrita do “Nosso Futuro Comum” ou “Relatório de Brundtland”, de 1987, que teve a participação de uma equipe multidisciplinar para a definição do conceito de Desenvolvimento Sustentável.


Durante os debates ao longo dessas décadas, duas áreas dentro do guarda-chuva da Economia do Meio Ambiente começaram a se destacar: a Economia Ambiental e a Economia Ecológica.


A Economia Ecológica parte do pressuposto de uma sustentabilidade forte, na qual não há substitutos para os recursos naturais. Além disso, a base da economia é de uma economia não neoclássica, na qual preferem não dar valores monetários (preços) aos recursos naturais, utilizando de outros índices, como a pegada ecológica e a de carbono.


Já a Economia Ambiental parte do pressuposto de uma sustentabilidade fraca, na qual prevê substitutos para os recursos naturais provenientes de inovações tecnológicas. A base teórica é proveniente da economia neoclássica e se utiliza de métodos de valoração (via sistema de preços) para demonstrar o valor dos recursos naturais. Um dos seus instrumentos mais conhecidos de política é o Pagamento por Serviço Ambiental, ou PSA.


Como podem ver, ambas áreas trazem instrumentos para serem utilizados em prol da conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. O uso de cada um desses instrumentos dependerá qual é o objetivo principal, ou seja, qual a pergunta que você pretende responder?


No entanto, podemos verificar maior robustez teórica nos instrumentos utilizados pela Economia Ambiental. Entendo que a forma como vemos “dar um preço a um bem ecossistêmico” nem sempre nos soa bem. Temos um certo “preconceito” com relação à economia e à forma como os preços são atribuídos, especialmente quando falamos de biodiversidade e de ecossistemas, pois cada um tem uma percepção diferente de valor.


Passei por isso ao entrar na Economia. Como bióloga e ecóloga de formação, tive esse “preconceito” num primeiro momento. Esse pré-conceito foi corrigido à medida que fui conhecendo e entendendo como a economia funciona e o quanto é importante traduzir o valor do bem e do serviço ambiental em uma unidade que nos é mais próxima, como a moeda, para que seja possível refletir a magnitude do valor para todos. Diferente, por exemplo, das metodologias propostas pela Economia Ecológica, que utiliza de unidades de medida como litros - Pegada Hídrica -, de emissões - Pegada de Carbono -, e de área - Pegada Ecológica.


Foto de Anne Nygård na Unsplash


Contudo, é importante ressaltar que nem tudo na Economia Ambiental é dar valor a algo. A valoração de recursos naturais, que é embasada em uma metodologia, é apenas uma das ferramentas utilizadas por essa área. Outras ferramentas que a Economia Ambiental disponibiliza para a conservação da biodiversidade e de ecossistemas são: metodologia de análises de custos e benefícios de projetos e programas ambientais; indicadores e índices da macroeconomia ambiental, como o PIB verde, por exemplo; métodos de análises de políticas públicas ambientais, via seus instrumentos econômicos de política, como é o caso do PSA; método para implementação de mercado de carbono, via valoração das emissões e incorporação de carbono.


O principal objetivo, portanto, de todas essas ferramentas e métodos desenvolvidos pela Economia Ambiental é auxiliar na tomada de decisão com relação à conservação do meio ambiente. Pois, esses métodos conseguem transformar informações não tangíveis a não conhecedores da importância dos ecossistemas - que são óbvias a ecólogos e biólogos - em dados acessíveis, como números, moedas e outras medidas comparativas.


Perguntas como: “o que é melhor, fazer mais áreas protegidas ou implementar novos instrumentos econômicos para a conservação privada?”; “deixar a gestão ambiental de áreas para a comunidade envolvida ou na mão do Estado?” podem ser respondidas com o uso de métodos da Economia Ambiental.  Mas, apesar dos economistas saberem muito sobre esses métodos e a teoria econômica por trás, poucos - raros, eu diria - sabem sobre o funcionamento do ecossistema. Por isso, é urgente trazer ecólogos para a economia e vice-versa. Pois, só assim conseguiremos progredir nas discussões e decisões sobre o que é melhor para a conservação do meio ambiente.

 

 

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