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Carol Bernardo

Histórias do cotidiano

Hoje estava pensando nas desigualdades deste Brasil.


Fui no INSS e enquanto esperava para resolver um “problema”(gerado pela própria plataforma, inclusive) estava “ouvindo” alguns atendimentos.


Um senhor tinha ido ao INSS para saber se o dinheiro que ele deveria receber já tinha sido depositado. Segundo a funcionária, tinha sido e também já tinha sido retirado em uma agência em Minas Gerais.


O senhor, de idade já um pouco avançada e costumes simples, falou que ele nunca tinha morado em MG. Só que ele tinha perdido a carteira de trabalho e o documento de identidade.


A funcionária disse, então, que ele tinha sido roubado. E que ele precisava fazer o Boletim de Ocorrência (B.O) dos roubos para poder retirar novamente os documentos e comprovar que não tinha sido ele quem sacou. Ele precisava também levar um comprovante de residência.


Só que demorou para o senhor entender o que tinha acontecido e o que ele precisava fazer.


Me deu pena e eu fiquei com o coração partido. E imaginei que tal situação era corriqueira por lá. Porque, anteriormente, tinha ido um senhor falar sobre laudos médicos e que não tinha sido liberado o dinheiro por erro no laudo ou algo assim.


Saio de lá sem ter feito o que iria fazer, por problemas de duplo agendamento. Além de esperar 2 meses para ter ido lá, terei que esperar mais 2 para poder resolver o que fui resolver.


Enfim.

Pego o busão para casa. Algumas mulheres atrás conversam sobre alguma coisa, que não pude compreender exatamente o que era.


A única coisa que eu consegui reparar foi “aquele que nós ‘fui’”. Assaltaram a gramática. Assassinaram o português.


Como professora, os erros de gramática, de linguagem, de coerência gramatical me saltam os olhos e me doem os ouvidos. Depois, houveram outros erros, tão graves quanto.


Como esses dois eventos se misturam?

Na minha percepção, problemas no sistema educacional e de oportunidades.


A população brasileira é majoritariamente composta por pessoas que mal, mal, finalizaram o ensino fundamental, quiçá o médio.


E vendo todas essas situações, vejo que falhamos enquanto nação. Falhamos em educar seus cidadãos para que saibam falar, ler, compreender, interpretar e criticar, e para que saibam meramente existir, com plenos direitos e ter esses mesmos direitos assegurados.


Pula para a tarde.


Fui levar minhas cachorras no banho e estou aguardando em uma cafeteria. E a conversa entre as funcionárias, de trás do balcão, corre solta. Até porque, é horário de almoço e não tinha ninguém na cafeteria além de mim.


Fiquei ouvindo a conversa (fofoqueira mesmo!) e ouvi duas coisas interessantes: 1) uma das funcionárias iria fazer uma tatuagem neste final de semana; 2) outra funcionária iria para a praia, em uma viagem com outras duas pessoas da família, para passar o réveillon, e ficar em uma casa, em um condomínio.


Eu fiquei pensando sobre minha vida (e sim, vou acabar me expondo um pouco aqui…).


Antes se eu tecer meus comentários (análises, na verdade) sobre, eu fico MUITO feliz e contente que essas pessoas têm a oportunidade de poder investir em seus próprios desejos, sonhos e vontades! Que bom que isso (ainda) é possível neste país, especialmente para a classe trabalhadora.


O que eu fiquei pensando é que, na minha atual conjuntura, eu não consigo fazer nada disso

Simplesmente pelo fato de não ter dinheiros para isso. Desde que voltei de Portugal, tive um “emprego” (sei nem de posso dizer emprego, porque era na modalidade PJ…) por 6 meses.


Saí do emprego porque ia acabar mesmo (saí antes que me mandassem embora por mensagem) e também para empreender.


Minha cabeça é extremamente fértil e isso é prejudicial de certa forma. Tenho milhões de ideias, diariamente, e, por isso, não consigo focar em uma coisa só.


Resumindo: perco um tempo sinistro, não ganho dinheiros, me canso a nível pré-bornout e ganho dívidas. E, segundo minha terapeuta, sou uma pessoa viciada em ter ideias e trabalhar para não ganhar dinheiro. Ou seja, descobri o motivo de estar na posição à qual me encontro: com algumas dividas ainda, num pré -bornout e precisando parar novamente.


Agora, final do ano, consegui uma consultoria para uma empresa, também na modalidade PJ, com um pagamento menor ao que eu recebia no antigo “emprego”, a título de experiência.


Fico pensando: além do vício em ter ideias e de me cansar em trabalhos que não consigo colocar (sozinha) no mundo, o que há de errado?


É comigo?

Será que é o mesmo "problema" do causo anterior: educação e oportunidades?

São com as oportunidades de trabalho para pessoas altamente qualificadas?

Será que só me resta o concurso público? (Que eu realmente não me adequo?)


Sei que tive muitas oportunidades na vida, se comparar com as mulheres dessa cafeteria. E sou MUITO grata aos meus pais que me proporcionaram isso.


Mas não deixo de pensar sobre o que eu devo fazer da vida. Qual a minha missão, propósito?

Ou se eu caí na conversa de que “todes podem empreender”, que “empreender é fácil” e que "todos devem ter um propósito/missão de vida"?


Caí no conto da carochinha?

E agora, preciso cair na real?


Que conselho/opinião/comentário você daria/faria?




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