Eu acho interessante este termo: “Soluções Baseadas na Natureza”, porque, para mim, demonstra três coisas:
parece que só agora estamos começando a observar os ecossistemas (e todos os recursos naturais embutidos) como “algo” de valor;
demonstra a nossa desconexão com a natureza, de percebê-la como “algo” separado de nós, humanos; e
parece que só agora estamos dando valor ao conhecimento que populações indígenas e tradicionais já sabiam (e praticavam) há anos.
Porque todas essas “soluções” já estavam por aí há muitos e muitos (e põe muitos nisso) anos. Só não enxergamos antes porque achávamos que não precisaríamos. Talvez, pelo fato de acharmos que os recursos naturais eram infinitos, como a teoria econômica de produção “prega” há muito tempo.
Ou talvez por “só agora” temos evidências científicas (fatos “entrando na casa sem bater na porta”) de:
alterações climáticas (real e oficial) causadas por nossas ações;
o que estava no ecossistema, antes de ser destruído para construir algo, explorar algo, cultivar algo (plantações e gado), produzir algo, servia para algum fim, que antes ninguém queria ver (exceto as comunidades tradicionais que ali viviam).
E agora, só agora (que a água já bateu na bunda, literalmente), estamos “vendo” essas soluções e renomeando como algo novo. Colocando um novo rótulo ao conhecimento tradicional secular.
São tantas questões (históricas, sociais, ambientais e culturais) para falar que eu nem sei por onde começar. Ou talvez seja melhor nem começar.
Mas, quero deixar claro que não sou contra as soluções baseadas na natureza. Eu acho lindo, na verdade. Que bom que em algum momento conseguimos perceber o valor que essas soluções baseadas na natureza tem.
O que eu sou contra é “vender” isso como se fosse algo novo, descoberto agora, e que vai salvar a vida de todos, frente às alterações climáticas. Não é algo novo. Não vai salvar a nossa pele, pois estamos agindo um tanto quanto tarde demais para salvar todo mundo.
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